Caro voluntário,

Você é convidado a colaborar com um estudo conduzido pelo aluno do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, Caio Rudá de Oliveira, sob orientação da prof. Dr. Ilka Bichara.

Esse é um estudo que investigará o processamento da experiência estética nas pessoas, isto é, como ocorre a fruição de uma obra de arte ou objetos perceptivos que desempenhem função semelhante.

Caso opte por participar, você tem por garantia o sigilo das respostas, sendo permitida a desistência em qualquer etapa dessa pesquisa. O responsável pode ser contatado pelo email seguinte: caio.ruda@hotmail.com.

Poesia

A seguir, há uma série de poemas ou fragmentos. Você pode escolher o que mais lhe agrada e em seguida lê-lo atenciosa e naturalmente. Abaixo de cada poema há um link para a página de registro de suas impressões dos poemas.










confissão primeira
aquele elogio aos meus olhos
deixou-me profundamente tocado
eis o resultado, meu bem
este singelo poema para ser lido e admirado












o despertar de uma mulher
o despertar de uma mulher
é uma melodia serena
feito um balanço no parque
lá e cá, deslizando no ar
um movimento leve e paciente
cadenciado, contra o qual insurgem
lapsos de descompasso

não importam as intermitências
o despertar de uma mulher é sutil e elegante
é uma flor com hora certa para desabrochar











sincretismo
[...]
cheiro de chuva
aguaceiro

oxumaré, meu deus
oxalá atenda
esse meu orixá
que me mande sua água de cheiro
seu cheiro de chuva
sua chuva de água
água de chuva, oxalá











A bomba suja
Introduzo na poesia
a palavra diarreia.
não pela palavra fria
mas pelo que ela semeia.

Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavra reais.

No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.

Que mata mais do que faca,
mais do que bala de fuzil,
homem, mulher, criança
no interior do Brasil.
(...)











Deixa estar, rapaz, deixa estar
Quando estou na pior,
prestes a amarrar uma bigorna no pescoço 
e me jogar da ponte
é você que me diz: let it be.
E quando eu quero correr pelado
e gritar para o mundo ouvir
que essa merda de vida não vale a pena,
é você que diz: let it be.
E nas vezes cortando cebolas
ou vendo meu time perder
ou quando sei que os ETs
vão invadir a Terra,
que amanhã é segunda-feira
e percebo que essa é só a leitura
de uma canção famosa
é você que me diz: let it be.












No monte
"Parei... Volvi em torno os olhos assombrados...
Ninguém! A solidão pejava os descampados...
Restava inda um segundo... um só p'ra me salvar;
Então reuni as forças, ao céu ergui o olhar...
E do peito arranquei um pavoroso grito,
Que foi bater em cheio às portas do infinito!
Ninguém! Ninguém me acode... Ai! só de monte em monte
Meu grito ouvi morrer na extrema do horizonte!...
Depois a solidão ainda mais calada
Na mortalha envolveu a serra descampada!...

"Ai! que pode fazer a rola triste
Se o gavião nas garras a espedaça?
Ai! que faz o cabrito do deserto,
Quando a jibóia no potente aperto
Em roscas férreas o seu corpo enlaça?

"Fazem como eu?... Resistem, batem, lutam,
E finalmente expiram de tortura.
Ou, se escapam trementes, arquejantes,
Vão, lambendo as feridas gotejantes,
Morrer à sombra da floresta escura! ...

    "E agora está concluída
    Minha história desgraçada.
    Quando caí — era virgem!
    Quando ergui-me — desonrada!"











o despertar de uma mulher
o despertar de uma mulher
é uma melodia serena
feito um balanço no parque
lá e cá, deslizando no ar
um movimento leve e paciente
cadenciado, contra o qual insurgem
lapsos de descompasso

não importam as intermitências
o despertar de uma mulher é sutil e elegante
é uma flor com hora certa para desabrochar











Define a sua cidade
De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito: por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra, há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já, prontamente como um brinco: Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder. 











versos do ocaso
há esse senhor leitor
que folheia sem pudor
e a cada página perpassada
letras contam uma vida
perfeitamente contida
num livro sem muita cor

velhice é noite sem estrelas
são memórias foscas e
o fim de leitura










 
A poesia
Onde está 
a poesia? indaga-se 
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal?

Cientistas esquarteja Púchkin e Baudelaire.
Exegetas desmontam a máquina da linguagem.
A poesia ri.

Baixa-se uma portaria: é proibido
misturar o poema com Ipanema.
O poeta depõe no inquérito:
meu poema é puro, flor
sem haste, juro!
Não tem passado nem futuro.
Não sabe a fel nem sabe a mel:
é de papel.
Não é como a açucena
que efêmera
passa.
E não está sujeito a traça
pois tem a proteção do inseticida.
Creia,
o meu poema está infenso à vida.
(...)










 
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...











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